domingo, 6 de maio de 2012

Bom ou ruim?

Se esta música tivesse vindo ao mundo desta forma, qual seria a reação dos pseudocults- ou cults mesmo- tupiniquins?


Contudo, ela veio assim:


E aí? O que é bom? O que é ruim?

terça-feira, 24 de abril de 2012

" todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo. "




    ESTATUTO DO HOMEM
       (Ato Institucional Permanente)
     
                                              A Carlos Heitor Cony
     
        Artigo I
     
       Fica decretado que agora vale a verdade.
       agora vale a vida,
       e de mãos dadas,
       marcharemos todos pela vida verdadeira.
     
     
       Artigo II   Fica decretado que todos os dias da semana,
       inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
       têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
     
     
       Artigo III
     
       Fica decretado que, a partir deste instante,
       haverá girassóis em todas as janelas,
       que os girassóis terão direito
       a abrir-se dentro da sombra;
       e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
       abertas para o verde onde cresce a esperança.
     
     
       Artigo IV
     
       Fica decretado que o homem
       não precisará nunca mais
       duvidar do homem.
       Que o homem confiará no homem
       como a palmeira confia no vento,
       como o vento confia no ar,
       como o ar confia no campo azul do céu.
     
               Parágrafo único:
     
               O homem, confiará no homem
               como um menino confia em outro menino.
     
     
       Artigo V
     
       Fica decretado que os homens
       estão livres do jugo da mentira.
       Nunca mais será preciso usar
       a couraça do silêncio
       nem a armadura de palavras.
       O homem se sentará à mesa
       com seu olhar limpo
       porque a verdade passará a ser servida
       antes da sobremesa.
     
     
       Artigo VI
     
       Fica estabelecida, durante dez séculos,
       a prática sonhada pelo profeta Isaías,
       e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
       e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
     
     
       Artigo VII
       Por decreto irrevogável fica estabelecido
       o reinado permanente da justiça e da claridade,
       e a alegria será uma bandeira generosa
       para sempre desfraldada na alma do povo.
     
     
       Artigo VIII
     
       Fica decretado que a maior dor
       sempre foi e será sempre
       não poder dar-se amor a quem se ama
       e saber que é a água
       que dá à planta o milagre da flor.
     
     
       Artigo IX
       Fica permitido que o pão de cada dia
       tenha no homem o sinal de seu suor.
       Mas que sobretudo tenha
       sempre o quente sabor da ternura.
     
     
       Artigo X
       Fica permitido a qualquer pessoa,
       qualquer hora da vida,
       o uso do traje branco.
     
     
       Artigo XI
     
       Fica decretado, por definição,
       que o homem é um animal que ama
       e que por isso é belo,
       muito mais belo que a estrela da manhã.
     
     
       Artigo XII
     
       Decreta-se que nada será obrigado
       nem proibido,
       tudo será permitido,
       inclusive brincar com os rinocerontes
       e caminhar pelas tardes
       com uma imensa begônia na lapela.
     
               Parágrafo único:
     
               Só uma coisa fica proibida:
               amar sem amor.
     
     
       Artigo XIII
     
       Fica decretado que o dinheiro
       não poderá nunca mais comprar
       o sol das manhãs vindouras.
       Expulso do grande baú do medo,
       o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
       para defender o direito de cantar
       e a festa do dia que chegou.
     
     
       Artigo Final.
     
       Fica proibido o uso da palavra liberdade,
       a qual será suprimida dos dicionários
       e do pântano enganoso das bocas.
       A partir deste instante
       a liberdade será algo vivo e transparente
       como um fogo ou um rio,
       e a sua morada será sempre
       o coração do homem.
  
Thiago de Mello
Santiago do Chile, abril de 1964

Bom, nesta postagem, eu quis compartilhar um pouco com vocês a enorme emoção que senti quando descobri o poeta Thiago de Mello. Nunca havia lido nada dele. E de início fui ler um dos poemas mais bonitos e marcantes da minha vida: Estatuto do Homem. Talvez no Estatuto estejam todos os elementos que sempre sonhei para aquilo que considero como sociedade ideal. Entre eles, a verdade, a liberdade pura e intrínseca ao ser humano e ,sobretudo, o amor! Talvez tudo isso seja utopia, talvez isso nunca aconteça, mas fica sempre o sentimento que poderemos construir um mundo ideal, nem que seja dentro de nós mesmos. E caso um dia esta utopia seja alcançada, deve ser difundida, afinal, o amor contagia...

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Posso ser louco?

“…a reforma psiquiátrica não é uma tecnologia de
montar serviços de saúde mental, mas um movimento
social de transformação profunda e de fato das concepções
sobre a loucura e sobre a diferença.”

  Com a atuação do movimento pela Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial nos últimos tempos houve uma grande mudança de paradigma em relação à assistência em Saúde Mental no Brasil. Estamos passando progressivamente de um modelo manicomial/hospitalocêntrico centrado na exclusão social do “doente mental”- o que levava, geralmente, a piora do paciente- para um modelo de tratamento aberto territorial-comunitário, onde os Centros de Atenção Psicossocial são a base ordenadora de uma rede de serviços regionalizados e que atendem sua população preferencialmente em seus próprios bairros.
  Na medida em que se substitui o modelo manicomial, o resgate dessas pessoas enquanto cidadãos vai se tornando uma necessidade. Para que ocorra um processo de inclusão social e promoção da real cidadania necessitamos de projetos que possam culminar com melhoria das condições de tratamento, de moradia e trabalho. A reforma psiquiátrica ainda tem que enfrentar de maneira objetiva as dificuldades que estão no caminho da reintegração dos usuários destes serviços substitutivos ao modelo hostpitalocêntrico.

  MAS AFINAL DE CONTAS, o que mais fica em minha cabeça é se a sociedade considerada sã está preparada para acolher os doentes mentais e, sobretudo, se quer recebê-los. Sempre quando falo sobre a Reforma Psiquiátrica logo surgem as perguntas: " MAS OS DOIDOS VÃO FICAR ANDANDO PELA RUA? E SE ATACAREM ALGUÉM?" Esses tipos de indagações,  levaram-me a reflexões sobre o que é loucura ou não, mas isso não vem ao caso. Posteriormente, consegui refletir sobre a ótica da frase de Elza (coordenadora do projeto de extensão que faço parte) que disse: " A gente tem que pensar em medidas preventivas, mas não deve esquecer que ainda existem doentes". Essa frase se encaixa muito bem para explicar esses tipos de perguntas que surgem da sociedade civil. Ao mesmo tempo em que se deve trabalhar com a Reforma, deve-se lembrar que exitem pessoas que realmente precisam de internação, uma vez que já estão internadas há muitos anos, mas que o objetivo supremo é conseguir inserir na sociedade  a maior parte dos pacientes psiquiátricos.

Completamente isanos ou não (até que ponto todos não somos insanos?), os pacientes psiquiátricos existem e precisam ser aceitos pela sociedade. Chega de trancafiá-los nos fundos das casas, nos manicômios! É para isso que a Reforma Psiquiátrica chega, pra garantir o direito de liberdade, de dignidade a pessoas que foram negligenciadas durante toda a história!

Agora quero saber a opinião de vocês! O que acham disso tudo?

Abraço a todos!




segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Legalizar? Descriminalizar?Não?Sim?

Um excelente documentário acerca das drogas! legalizar? descriminalizar? O tema é tratado de maneira séria e FHC expõe argumentos consistentes e bem pautados...Acho uma boa oportunidade para se conhecer mais sobre o assunto e tentar formar uma opinião...Bom filme!

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Somos o que queremos ser?

Durante a leitura do Povo Brasileiro, livro de Darcy Ribeiro, me deparei com o seguinte trecho:

"A escola não ensina, a igreja não catequiza, os partidos não politizam. O que opera é um monstruoso sistema de comunicação de massa fazendo a cabeça das pessoas. Impondo-lhes padrões de consumo inatingíveis, desejabilidades inalcançáveis, aprofundando mais a marginalidade dessas populações e seu pendor à violência. Algo tem que ver a violência desencadeadas nas ruas com o abandono dessa população entregue ao bombardeio de um rádio e de uma televisão social e moralmente irresponsáveis, para as quais é bom o que mais vende, refrigerantes ou sabonetes, sem se preocupar com o desarranjo mental e moral que provocam."

Esse texto me levou a diversas reflexões, mas a que mais ficou em minha cabeça foi o processo de massificação realizada pelas mídias atuais - principalmente, televisão e internet. Talvez isso tenha me marcado após ver a circulação em um site de relacionamentos da imagem abaixo:
     Junto da imagem estavam os dizeres: " Bandido BOM é bandido MORTO". Isso me deixou completamente em estado de choque! As primeiras coisas que pensei: Como as pessoas podem achar normal uma imagem dessa? Como podem desdenhar de uma imagem dessa? Qual o conceito de justiça que queremos?
     Depois de muito pensar acabei chegando nas mídias nativas! As informações que as mídias passam mostram em alto e bom tom que bandido é bandido porque quer ser - como se alguem já nascesse sonhando ser bandido. O mais triste é que elas moldam o pensamento da grande maioria dos brasileiros. Após escutar o Datena falando ou ver o Balanço Geral, qualquer cidadão fica perplexo com a bandidagem e quer destruir todos os traficantes, assassinos, assaltantes da face da Terra. Mas será que é assim mesmo que a coisa funciona? Será que crianças entram no tráfico porque são pivetes mesmo? Meninas se prostituem porque são vagabundas mesmo?
     Acredito que NÃO!
Quero ouvrir as pessoas! comentem sobre esse tema que foi tratado de uma forma inconsequente nas redes sociais!

sábado, 1 de outubro de 2011

Latinoamerica!

        EM ALGUNS MOMENTOS , EM RODAS DE AMIGOS, RESOLVI DIZER QUE SONHAVA EM VIAJAR POR TODO O BRASIL E DEPOIS POR TODA A AMÉRICA LATINA ANTES DE CONHECER AS OUTRAS PARTES DO MUNDO (SE TIVESSE CONDIÇÕES). AS REAÇÕES FORAM DIVERSAS, MAS UMA RESPOSTA AO QUE EU DISSE ME CHAMOU MUITO ATENÇÃO. A PESSOA DISSE: “MAS O QUE VC VAI ACHAR NESSES PAISES QUE SÓ TEM GENTE POBRE ? O BOM MESMO É IR PRA LONDRES, PARIS, NEW YORK.  ISSO SIM É CIVILIZAÇÃO”. APÓS ESCUTAR ISSO, PASSEI A REFLETIR SOBRE A CULTURA E O POVO LATINOAMERICANO, NÃO SÓ O BRASILEIRO.
      POIS EU DIGO, NÃO É PRECISO IR A EUROPA PRA “SENTIR O CHEIRO DA CULTURA” – COMO JÁ ESCUTEI TAMBÉM. O POVO DA NOSSA TERRA É RICO E POSSUI UMA CULTURA ATÉ MESMO DIGNA DE INVEJA. A FORMAÇÃO CULTURAL BRASILEIRA SE DEU COM BASE NA MISTURA DE TRES POVOS: INDIGENAS, AFRICANOS E EUROPEUS (SOBRETUDO LUSITANOS). DESSA MISTURA SURGIU UMA CULTURA EXTREMAMENTE RICA. EM QUE OUTRO PAÍS PODE-SE ENCONTRAR RELIGIÕES DE MATRIZES AFRICANAS EM QUE ORIXÁS TOMAM FORMAS DE SANTOS CATÓLICOS?
      A PARTIR DISSO, CONSEGUI FORMULAR O QUE RESPONDERIA A PESSOA QUE ME DISSE O QUE RELATEI ANTERIORMENTE. QUANDO DESEJO VIAJAR, EU TENHO O INTUITO DE CONHECER MUITO MAIS DO QUE CONSTRUÇÕES, DESEJO VER AS PESSOAS. CONHECER COMPORTAMENTOS DIFERENTES, MODOS DE PENSAR DIFERENTES E APRENDER COM O DIFERENTE A CONSTRUIR MEU PRÓPRIO MUNDO, MINHA PRÓPRIA CONSCIENCIA.  SE PRA MUITOS BASTA VER OS PREDIOS E AS LUZES DA TIME SQUARE, PARA MIM NÃO É O SUFIENTE. MUITO MAIS DO QUE FAZER COMPRAS NO EXTERIOR EU QUERO CONHECER CADA POVO SOFRIDO, MAS ALEGRE QUE HABITA O SUL DA LINHA DO EQUADOR!

Eu sei, mas não devia - Marina Colasanti


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos
e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor.

E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abre as cortinas logo se acostuma acender mais cedo a luz.
E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar café correndo porque está atrasado.
A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.
E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos.
E aceitando os números aceita não acreditar nas negociações de paz,
aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
A lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.

E a ganhar menos do que precisa.
E a fazer filas para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes.
A abrir as revistas e a ver anúncios.
A ligar a televisão e a ver comerciais.
A ir ao cinema e engolir publicidade.
A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição.

As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
A luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias da água potável.
A contaminação da água do mar.
A lenta morte dos rios.

Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães,
a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.

Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui,
um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.

Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo
e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se
da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta,
de tanto acostumar, se perde de si mesma.



Só uma coisa a declarar: eu ainda vou ter uma personalidade como a desse Antônio Abujamra.

 Pra quem não conhece esse espetacular entrevistador, pode assistir o Programa Provocações na TV Cultura (Às Terças, às 23h) ou na Rede Minas (Aos Sábados, às 23h).